Terrorismo intelectual

(…) “As declarações sucessivas do primeiro-ministro nestes últimos dias, de novo sobre o Estado social, apenas confirmam a mesma tendência, embora “elevando-a” para um patamar antes inatingido. Pense-se apenas em dois exemplos, por falta de espaço.

O primeiro é o das declarações sobre as pensões milionárias e a justificação da sua diminuição em função da “justiça”, omitindo deliberadamente que os cortes já decididos incidem sobre pensões a partir de 1350 euros. Neste aspecto, o primeiro-ministro quis, antes de mais, condicionar a decisão do PR sobre o OE de 2013 insinuando factores da sua vida privada, o que é inaceitável. Mas o primeiro-ministro quis também cindir a sociedade entre velhos e novos, gerar ódios intergeracionais, enfim, dividir para poder reinar.

O segundo exemplo é o das declarações sobre o “facto” de o Estado social beneficiar os ricos. Os portugueses que conhecem as filas da segurança social, dos centros de saúde, aqueles que sabem até que ponto as transferências sociais amenizam a pobreza em Portugal, compreendem bem a alarvidade destas afirmações. Na segurança social e na saúde, mas também na educação, o Estado social tem sido o grande apoio dos pobres e da classe média-baixa. Ao fazer tais declarações, o primeiro-ministro quis apenas dividir a sociedade entre pobres e ricos, gerar ódios sociais, criando mais uma vez as condições para poder reinar. A governação em Portugal vive tempos sombrios.

Nunca houve na democracia portuguesa um primeiro-ministro que atingisse este nível de irresponsabilidade social, desonestidade argumentativa e terrorismo intelectual.”

João Cardoso Rosas, no DE

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